Chineses plantando a própria comida

By mandinga • horta • 14 maio 2013

Falta de segurança alimentar faz chineses plantarem sua comida

retirado de: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/05/1277354-falta-de-seguranca-alimentar-faz-chineses-plantarem-sua-comida.shtml

Até dois meses atrás, o administrador Jin Zhaohui, 44, costumava plantar verduras na varanda de seu pequeno apartamento, na região central de Pequim.

Mas o espaço ficou apertado, e ele decidiu alugar um pedaço de terra nos arredores da capital chinesa para ampliar sua horta. O hobby havia virado necessidade.

“Só assim eu sei exatamente o que sai da terra para o meu prato”, explica Jin, expressando a preocupação crescente dos chineses com a qualidade dos alimentos produzidos no país.

 

Assim como ele, muitos profissionais de classe média decidiram colocar as mãos na terra e cultivar a comida que consomem. Administradores, professores ou técnicos de informática no dia a dia, no fim de semana eles se tornam aprendizes de agricultor.

A fazenda Pequeno Burro, onde Jin cultiva pepino, tomate, pimentão, repolho e outras verduras, foi a primeira de muitas outras surgidas nos últimos anos nos arredores de Pequim, com o objetivo de oferecer uma alternativa segura aos consumidores.

Não por coincidência, ela foi criada pouco depois do escândalo do leite em pó adulterado com o químico melamina, em 2008, que intoxicou cerca de 300 mil crianças e matou seis bebês.

O caso deixou uma cicatriz profunda na consciência coletiva dos chineses. Disseminou-se a desconfiança generalizada na capacidade do governo de garantir a segurança alimentar, que se ampliou na esteira de uma série de escândalos posteriores.

Os exemplos se multiplicaram, incluindo óleo de esgoto reaproveitado em restaurantes, frutas que explodem por excesso de produtos químicos e, mais recentemente, carne de rato e raposa vendida como carneiro.

Segundo o instituto de pesquisa Pew, em 2008 somente 12% dos chineses consideravam a segurança alimentar um problema grave, mas a porcentagem mais que triplicou em 2012, para 41%.

PROMESSA DO GOVERNO

Preocupada com a escalada de insatisfação e os riscos de instabilidade social, a nova liderança chinesa, que tomou posse em março, anunciou a criação de um superministério para fiscalizar alimentos e remédios.

O problema é que grande parte da comida consumida no país sai de minifúndios que funcionam na área rural, muitos de fundo de quintal e difícil fiscalização.

“O governo tenta combater o problema, mas está claro que vai levar tempo para resolvê-lo. Por isso as pessoas começaram a buscar suas próprias soluções”, diz Zhong Fang, diretora de pesquisa do projeto Pequeno Burro.

A fazenda funciona em sistema de cooperativa e oferece dois tipos de serviços. Por 1.500 yuans anuais (R$ 500), o associado ganha sementes, fertilizante, ferramentas e treinamento para plantar num lote de 30 metros quadrados.

Caso prefira manter as mãos limpas, pode receber toda semana uma caixa de alimentos orgânicos cultivados na fazenda por camponeses da região, que sai pela metade do preço cobrado nos supermercados.

O projeto é um sucesso: dos 17 associados da época da fundação, hoje tem mais de 400. Segundo Zhong, a iniciativa inspirou outras 30 fazendas semelhantes nos arredores de Pequim, e gente de todo o país tem pedido orientação para fazer o mesmo.

URBANIZAÇÃO

Por trás da iniciativa há um grito de protesto contra a industrialização desenfreada da China nos últimos 30 anos e sua rápida urbanização.

A especulação imobiliária também contribuiu para o encolhimento das terras agrícolas, estimulando governos locais a desapropriar camponeses para obter lucros em grandes projetos residenciais.

Os números dão a dimensão do fenômeno. Em 2001, o investimento total no setor imobiliário equivalia a 5,7% do PIB. No ano passado, o montante chegou a 13,8%.

No vilarejo de Qianshajian, onde fica a cooperativa do Pequeno Burro, restou aos camponeses uma ilha agrícola de oito hectares, espremida entre fábricas e condomínios.

A outra novidade na paisagem são os agricultores de primeira viagem. “Venho duas vezes por semana. É a única forma segura de saber o que como”, diz o professor aposentado Hei Longjiang, 65, mostrando com orgulho os rabanetes recém-colhidos.

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